A união entre dois santos: a cela do amor sempre aberta

Papa João Paulo II e Maximiliano Kolbe
Bombas, aviões, gritos, desespero, lágrimas, pessoas que caminham sem rumo e sem direção pelas estradas da cidade, escondendo-se dos soldados para não se tornarem prisioneiros. Nossa história começa na Polônia, durante a segunda guerra mundial.


Maximiliano Kolbe e Papa João Paulo II viveram tudo isso, guardaram em suas memórias tantas imagens de horror e de ódio, de sofrimento e de dor, de um tempo difícil na sociedade do século XX. Mas em seus corações e mentes sabiam que o amor é maior que tudo e que vence o mal.

Estes dois filhos da Polônia, em tempos diferentes, estiveram no mesmo lugar: no bunker da fome. Padre Kolbe, franciscano menor conventual, viveu ali por quinze dias. Papa João Paulo II, conhecido pelos amigos e familiares como Karol Wojtyla, entrou na cela somente por alguns momentos, com uma vela e um ramalhetes de flores.

Gestos simples e profundos, em um único lugar, com um único ideal: dar a vida pelo irmão. A cela do amor sempre aberta une a vida desses dois poloneses, que traziam consigo um amor especial por Nossa Senhora, a Virgem que soube ouvir a voz de Deus, silenciar o coração, oferecer a vida e testemunhar a sua fé.

Durante os ataques, João Paulo II acompanhou o extermínio de tantas pessoas. Ele ainda não era sacerdote, era aluno da universidade e tinha sonhos de se tornar um ator. Mas seus olhos foram atraídos por um amor ainda maior, na dor e no sofrimento humano, descobre a riqueza de Deus, e que o amor é maior do que a morte.

"Só o amor constrói", destaca Padre Kolbe, diante da tragédia causada pelo pecado. A morte não vence o amor, pelo contrário, com Cristo, as cruzes se tornam caminho para a vitória. De seu convento anunciava a boa-nova por meio da imprensa, mas que no tempo de guerra, não teve medo de abrir as portas e acolher os doentes e refugiados.

Da mesma forma, no campo de concentração de Auschwitz, Maximiliano Kolbe segue os passos do mestre e decidi sair da fila e diz: "Quero dar a vida no lugar daquele homem". "Mas quem é você?", pergunta o comandante. "Um sacerdote católico". A troca é aceita e feita imediatamente, e Maximiliano desce os degraus do bunker da fome, nu, com mais nove prisioneiros.

Karol Woytila é ciente de toda essa história, é um polonês, que teve que fugir para não ser pego pela Gestapo ou assassinado pelos soldados da SS. Perde amigos e parentes, mas em seu coração, na maior dor que poderia sentir, descobre a sua vocação: ser sacerdote católico.

O sim de Padre Kolbe é total e ilimitado, principalmente no bunker da fome. Transforma aquele lugar de sofrimento e dores, em um lugar de paz. Como nos conta o prisioneiro-intérprete Bruno Burgowiec:

"Devido ao silêncio e à acústica, a voz de Padre Kolbe rezando espalhava-se pelas outras celas, onde podia ser ouvida bem. Esses outros prisioneiros juntaram-se a ele na oração. A partir de então, todos os dias, da cela onde se encontravam aquelas pobres almas e das celas vizinhas, vinha o som da recitação de orações, do terço e de hinos. Padre Kolbe começava e os outros respondiam em grupo. Quando essas orações e hinos fervorosos ressoavam em todos os cantos do bunker, eu tinha a impressão de estar em uma igreja." (TREECE, 1996, p.255)

No meio daquela escuridão, Maximiliano Kolbe resplandece a luz de Cristo, semeia o amor onde havia ódio, espalha união no lugar da discórdia, mostra a verdade onde prevalecia a mentira, leva esperança aos desesperados, ensina como ser alegre nos lugares onde só a tristeza reinava.

No auge de seu apostolado, Padre Kolbe chega escrever: "Viver, trabalhar, sofrer, e se preciso for, morrer." E assim aconteceu com o "mártir da caridade", no final dos quinze dias no bunker da fome, os soldados da SS injetam ácido fênico em um de seus braços. Era 14 de agosto de 1941.

"Quando viam a porta da cela aberta, os prisioneiros infelizes, chorando, imploravam um pedaço de pão e um pouco d’água, que nunca conseguiram. [...] Padre Kolbe nunca pedia nada nem se queixava. Olhava direta e atentamente nos olhos dos que entravam na cela. [...] Os homens da SS não conseguiam enfrentar seu olhar e costumavam esbravejar: 'Olhe para o chão e não para nós'. [...] À medida que os prisioneiros ficavam mais fracos, as orações continuavam, só que em sussurros. Mesmo quando, durante a inspeção, os outros estavam sempre deitados no cimento, Padre Kolbe ainda estava de pé ou ajoelhado com a fisionomia serena. Dessa maneira, passaram-se duas semanas. Os prisioneiros iam morrendo, um após outro e, a essa altura, só restavam quatro, entre eles Padre Kolbe, que ainda estava consciente. Os homens da SS decidiram que as coisas estavam demorando muito... Um dia chamaram do hospital o criminoso alemão Bock, para dar injeções de ácido fênico nos prisioneiros. [...] Vi Padre Kolbe, rezando, estender ele mesmo o braço ao assassino. Não aguentei. Com a desculpa de ter trabalho a fazer, saí. Mas assim que os SS e o algoz foram embora, voltei. Os outros cadáveres nus, enegrecidos, estavam no chão, seus rostos mostrando os sinais de sofrimento. Padre Kolbe estava sentado, ereto, encostado à parede. Seu corpo não estava sujo como os outros; estava limpo e resplandecente. A cabeça estava um pouco inclinada para um lado. Tinha os olhos abertos. Sereno e puro, seu rosto parecia radiante. Qualquer um teria notado e pensado que ali estava um santo." (TREECE, 1996, p.257-258)

Em 1982, no dia de 10 de outubro, Papa João Paulo II, declara o mártir de Auschwitz um santo da Igreja: "(...) sendo também ele um prisioneiro do campo de concentração, reivindicou, no 'lugar da morte', o direito à vida de um homem inocente, um dos quatro milhões. (...) reafirmou assim o direito exclusivo do Criador à vida do homem inocente e deu testemunho a Cristo e ao amor."

"Maximiliano não morreu... deu a vida", exclama Papa João Paulo II, quase no final de sua mensagem sobre o mártir da caridade. Agora do céu, o Santo de Auschwitz pode festejar a canonização de um outro polonês: Papa João Paulo II, que se tornará santo no dia 27 de abril, festa da Misericórdia, pelas mãos de Papa Francisco. Junto com ele, o Sumo Pontífice eleva também aos altares o Papa João XXIII.

Assim, a história destes dois grandes homens e santos estará unida eternamente por uma cela de amor, que se mantém sempre aberta. Precisamos anunciar ao mundo que "só o amor constrói", participe e divulgue o projeto "A Cela de Amor Sempre Aberta" idealizado pelas Missionárias da Imaculada-Padre Kolbe, na Polônia: http://www.kolbemission.org/flex/cm/pages/ServeBLOB.php/L/IT/IDPagina/6956

Salve Maria Imaculada e viva os novos santos de Deus!

Lourdes Crespan
Missionária da Imaculada-Padre Kolbe
São Bernardo - SP


Fonte: FACCENDA, Luigi M. Era Mariana. Quarta edizione. Bologna. Edizioni dell'Immacolata, 1995. / TREECE, Patrícia. Maximiliano Kolbe: o Santo de Auschwitz. Tradução Barbara Theoto Lambert. Santo André. Edições da Imaculada, 1998.

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