A sirenes vermelhas estão a girar, uma jovem desvia-se do caminho e meus ouvidos escutam: "O que você faz por aqui hoje?"
Em breve instante... o jovem desce da moto, seus documentos são retirados da carteira e as pessoas continuam fazendo sua caminhada matinal.
Nas minhas mãos, o terço... rezei por aquela situação, não poderia ficar indiferente. Por várias vezes, pude contemplar a cena: os dois policias e o jovem continuavam a esperar. Ora conversavam ora reinava somente o silêncio.
Deve ter sido intenso aqueles minutos, pensei em tantos encarcerados que foram presos e que estão nos cárceres, lembrando ainda do momento que foram abordados pela polícia.
Quando de repente, vejo que o jovem abria a sua carteira e colocava de volta os seus documentos. Que alívio, deve ter pensando. Em segundos, já estava na moto e partia.
Junto com ele, tantos outros carros, tantas outras pessoas, tantas outras histórias.
E as sirenes continuavam a girar pela rua do bairro onde me encontrava.
Lourdes Crespan
Missionária da Imaculada-Padre Kolbe
MIPK: https://www.kolbemission.org/ facebook.com/missionariasdaimaculada-padrekolbe / @missionariasdai
sexta-feira, 19 de agosto de 2016
sábado, 7 de maio de 2016
Bênção para as mães
Pai celestial,
nós vos damos graças pelas nossas mães,
a quem confiastes o cuidado precioso
da vida humana desde seu início no ventre.
Vós destes à mulher a capacidade de participar
convosco da criação de novas vidas.
Fazei que cada mulher compreenda
o pleno significado desse dom,
que lhe dá uma capacidade ilimitada de amar
desinteressadamente todas as crianças.
Velai por cada mãe que espera um filho,
fortalecei sua fé em vosso cuidado paternal
e em vosso amor pelo seu bebê.
Dai-lhe coragem nos momentos de medo ou dor;
compreensão nos momentos de incerteza e dúvida;
esperança diante das dificuldades.
Concedei-lhe alegria diante
do nascimento do seu filho!
Abençoai as mães, a quem destes
o grande privilégio e a responsabilidade
de ser a primeira guia espiritual de uma criança.
Fazei que todas elas possam dignamente
incentivar a fé dos seus filhos,
seguindo o exemplo da Maria, de Isabel
e de outras santas mulheres que seguem Jesus.
Ajudai as mães a crescer diariamente
no conhecimento e na compreensão do vosso Filho,
nosso Senhor Jesus Cristo,
e concedei-lhes a sabedoria para
espalhar este conhecimento fielmente
aos seus filhos e a todos que dependem delas.
Ajudai todas as mães espirituais, que,
apesar de não terem filhos próprios,
cuidam dos filhos dos outros,
de qualquer idade e estado de vida.
Enviai vosso Espírito Santo, o Consolador,
às mães das crianças que morreram,
das que estão doentes, separadas das suas famílias
ou que se encontram em perigo.
Dai-lhes vossa graça,
para que confiem em vossa misericórdia.
Pedimos vossa bênção a todas as mulheres
a quem confiastes do dom da maternidade.
Que vosso Espírito Santo sempre as inspire e fortaleça.
Que nunca deixem de seguir o exemplo de Maria
e de imitar sua fidelidade, sua humildade e seu amor de doação.
Que as mães possam receber vossa graça
abundantemente nesta vida
e que esperem participar da alegria eterna
em vossa presença.
Nós vos pedimos por nosso Senhor
Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo.
Amém.
Fonte: http://pt.aleteia.org
nós vos damos graças pelas nossas mães,
a quem confiastes o cuidado precioso
da vida humana desde seu início no ventre.
Vós destes à mulher a capacidade de participar
convosco da criação de novas vidas.
Fazei que cada mulher compreenda
o pleno significado desse dom,
que lhe dá uma capacidade ilimitada de amar
desinteressadamente todas as crianças.
Velai por cada mãe que espera um filho,
fortalecei sua fé em vosso cuidado paternal
e em vosso amor pelo seu bebê.
Dai-lhe coragem nos momentos de medo ou dor;
compreensão nos momentos de incerteza e dúvida;
esperança diante das dificuldades.
Concedei-lhe alegria diante
do nascimento do seu filho!
Abençoai as mães, a quem destes
o grande privilégio e a responsabilidade
de ser a primeira guia espiritual de uma criança.
Fazei que todas elas possam dignamente
incentivar a fé dos seus filhos,
seguindo o exemplo da Maria, de Isabel
e de outras santas mulheres que seguem Jesus.
Ajudai as mães a crescer diariamente
no conhecimento e na compreensão do vosso Filho,
nosso Senhor Jesus Cristo,
e concedei-lhes a sabedoria para
espalhar este conhecimento fielmente
aos seus filhos e a todos que dependem delas.
Ajudai todas as mães espirituais, que,
apesar de não terem filhos próprios,
cuidam dos filhos dos outros,
de qualquer idade e estado de vida.
Enviai vosso Espírito Santo, o Consolador,
às mães das crianças que morreram,
das que estão doentes, separadas das suas famílias
ou que se encontram em perigo.
Dai-lhes vossa graça,
para que confiem em vossa misericórdia.
Pedimos vossa bênção a todas as mulheres
a quem confiastes do dom da maternidade.
Que vosso Espírito Santo sempre as inspire e fortaleça.
Que nunca deixem de seguir o exemplo de Maria
e de imitar sua fidelidade, sua humildade e seu amor de doação.
Que as mães possam receber vossa graça
abundantemente nesta vida
e que esperem participar da alegria eterna
em vossa presença.
Nós vos pedimos por nosso Senhor
Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo.
Amém.
Fonte: http://pt.aleteia.org
Comunicação e Misericórdia: um encontro fecundo
Queridos irmãos e irmãs!
O Ano Santo da Misericórdia convida-nos a refletir sobre a relação entre a comunicação e a misericórdia. Com efeito a Igreja unida a Cristo, encarnação viva de Deus Misericordioso, é chamada a viver a misericórdia como traço característico de todo o seu ser e agir. Aquilo que dizemos e o modo como o dizemos, cada palavra e cada gesto deveria poder expressar a compaixão, a ternura e o perdão de Deus para todos. O amor, por sua natureza, é comunicação: leva a abrir-se, não se isolando. E, se o nosso coração e os nossos gestos forem animados pela caridade, pelo amor divino, a nossa comunicação será portadora da força de Deus.
Como filhos de Deus, somos chamados a comunicar com todos, sem exclusão. Particularmente próprio da linguagem e das ações da Igreja é transmitir misericórdia, para tocar o coração das pessoas e sustentá-las no caminho rumo à plenitude daquela vida que Jesus Cristo, enviado pelo Pai, veio trazer a todos. Trata-se de acolher em nós mesmos e irradiar ao nosso redor o calor materno da Igreja, para que Jesus seja conhecido e amado; aquele calor que dá substância às palavras da fé e acende, na pregação e no testemunho, a «centelha» que os vivifica.
A comunicação tem o poder de criar pontes, favorecer o encontro e a inclusão, enriquecendo assim a sociedade. Como é bom ver pessoas esforçando-se por escolher cuidadosamente palavras e gestos para superar as incompreensões, curar a memória ferida e construir paz e harmonia. As palavras podem construir pontes entre as pessoas, as famílias, os grupos sociais, os povos. E isto acontece tanto no ambiente físico como no digital. Assim, palavras e ações hão-de ser tais que nos ajudem a sair dos círculos viciosos de condenações e vinganças que mantêm prisioneiros os indivíduos e as nações, expressando-se através de mensagens de ódio. Ao contrário, a palavra do cristão visa fazer crescer a comunhão e, mesmo quando deve com firmeza condenar o mal, procura não romper jamais o relacionamento e a comunicação.
Por isso, queria convidar todas as pessoas de boa vontade a redescobrirem o poder que a misericórdia tem de curar as relações dilaceradas e restaurar a paz e a harmonia entre as famílias e nas comunidades. Todos nós sabemos como velhas feridas e prolongados ressentimentos podem aprisionar as pessoas, impedindo-as de comunicar e reconciliar-se. E isto aplica-se também às relações entre os povos. Em todos estes casos, a misericórdia é capaz de implementar um novo modo de falar e dialogar, como se exprimiu muito eloquentemente Shakespeare: «A misericórdia não é uma obrigação. Desce do céu como o refrigério da chuva sobre a terra. É uma dupla bênção: abençoa quem a dá e quem a recebe» (O mercador de Veneza, Ato IV, Cena I).
É desejável que também a linguagem da política e da diplomacia se deixe inspirar pela misericórdia, que nunca dá nada por perdido. Faço apelo sobretudo àqueles que têm responsabilidades institucionais, políticas e de formação da opinião pública, para que estejam sempre vigilantes sobre o modo como se exprimem a respeito de quem pensa ou age de forma diferente e ainda de quem possa ter errado. É fácil ceder à tentação de explorar tais situações e, assim, alimentar as chamas da desconfiança, do medo, do ódio. Pelo contrário, é preciso coragem para orientar as pessoas em direção a processos de reconciliação, mas é precisamente tal audácia positiva e criativa que oferece verdadeiras soluções para conflitos antigos e a oportunidade de realizar uma paz duradoura. «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. (...) Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 7.9).
Como gostaria que o nosso modo de comunicar e também o nosso serviço de pastores na Igreja nunca expressassem o orgulho soberbo do triunfo sobre um inimigo, nem humilhassem aqueles que a mentalidade do mundo considera perdedores e descartáveis! A misericórdia pode ajudar a mitigar as adversidades da vida e dar calor a quantos têm conhecido apenas a frieza do julgamento. Seja o estilo da nossa comunicação capaz de superar a lógica que separa nitidamente os pecadores dos justos. Podemos e devemos julgar situações de pecado – violência, corrupção, exploração, etc. –, mas não podemos julgar as pessoas, porque só Deus pode ler profundamente no coração delas. É nosso dever admoestar quem erra, denunciando a maldade e a injustiça de certos comportamentos, a fim de libertar as vítimas e levantar quem caiu. O Evangelho de João lembra-nos que «a verdade [nos] tornará livres» (Jo 8, 32). Em última análise, esta verdade é o próprio Cristo, cuja misericórdia repassada de mansidão constitui a medida do nosso modo de anunciar a verdade e condenar a injustiça. É nosso dever principal afirmar a verdade com amor (cf. Ef 4, 15). Só palavras pronunciadas com amor e acompanhadas por mansidão e misericórdia tocam os nossos corações de pecadores. Palavras e gestos duros ou moralistas correm o risco de alienar ainda mais aqueles que queríamos levar à conversão e à liberdade, reforçando o seu sentido de negação e defesa.
Alguns pensam que uma visão da sociedade enraizada na misericórdia seja injustificadamente idealista ou excessivamente indulgente. Mas tentemos voltar com o pensamento às nossas primeiras experiências de relação no seio da família. Os pais amavam-nos e apreciavam-nos mais pelo que somos do que pelas nossas capacidades e os nossos sucessos. Naturalmente os pais querem o melhor para os seus filhos, mas o seu amor nunca esteve condicionado à obtenção dos objetivos. A casa paterna é o lugar onde sempre és bem-vindo (cf. Lc 15, 11-32). Gostaria de encorajar a todos a pensar a sociedade humana não como um espaço onde estranhos competem e procuram prevalecer, mas antes como uma casa ou uma família onde a porta está sempre aberta e se procura aceitar uns aos outros.
Para isso é fundamental escutar. Comunicar significa partilhar, e a partilha exige a escuta, o acolhimento. Escutar é muito mais do que ouvir. Ouvir diz respeito ao âmbito da informação; escutar, ao invés, refere-se ao âmbito da comunicação e requer a proximidade. A escuta permite-nos assumir a atitude justa, saindo da tranquila condição de espectadores, usuários, consumidores. Escutar significa também ser capaz de compartilhar questões e dúvidas, caminhar lado a lado, libertar-se de qualquer presunção de omnipotência e colocar, humildemente, as próprias capacidades e dons ao serviço do bem comum.
Escutar nunca é fácil. Às vezes é mais cômodo fingir-se de surdo. Escutar significa prestar atenção, ter desejo de compreender, dar valor, respeitar, guardar a palavra alheia. Na escuta, consuma-se uma espécie de martírio, um sacrifício de nós mesmos em que se renova o gesto sacro realizado por Moisés diante da sarça-ardente: descalçar as sandálias na «terra santa» do encontro com o outro que me fala (cf. Ex 3, 5). Saber escutar é uma graça imensa, é um dom que é preciso implorar e depois exercitar-se a praticá-lo.
Também e-mails, sms, redes sociais, chat podem ser formas de comunicação plenamente humanas. Não é a tecnologia que determina se a comunicação é autêntica ou não, mas o coração do homem e a sua capacidade de fazer bom uso dos meios ao seu dispor. As redes sociais são capazes de favorecer as relações e promover o bem da sociedade, mas podem também levar a uma maior polarização e divisão entre as pessoas e os grupos. O ambiente digital é uma praça, um lugar de encontro, onde é possível acariciar ou ferir, realizar uma discussão proveitosa ou um linchamento moral. Rezo para que o Ano Jubilar, vivido na misericórdia, «nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos; elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de violência e discriminação» (Misericordiae Vultus, 23). Em rede, também se constrói uma verdadeira cidadania. O acesso às redes digitais implica uma responsabilidade pelo outro, que não vemos mas é real, tem a sua dignidade que deve ser respeitada. A rede pode ser bem utilizada para fazer crescer uma sociedade sadia e aberta à partilha.
A comunicação, os seus lugares e os seus instrumentos permitiram um alargamento de horizontes para muitas pessoas. Isto é um dom de Deus, e também uma grande responsabilidade. Gosto de definir este poder da comunicação como «proximidade». O encontro entre a comunicação e a misericórdia é fecundo na medida em que gerar uma proximidade que cuida, conforta, cura, acompanha e faz festa. Num mundo dividido, fragmentado, polarizado, comunicar com misericórdia significa contribuir para a boa, livre e solidária proximidade entre os filhos de Deus e irmãos em humanidade.
Papa Francisco
Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais
Fonte: https://w2.vatican.va
O Ano Santo da Misericórdia convida-nos a refletir sobre a relação entre a comunicação e a misericórdia. Com efeito a Igreja unida a Cristo, encarnação viva de Deus Misericordioso, é chamada a viver a misericórdia como traço característico de todo o seu ser e agir. Aquilo que dizemos e o modo como o dizemos, cada palavra e cada gesto deveria poder expressar a compaixão, a ternura e o perdão de Deus para todos. O amor, por sua natureza, é comunicação: leva a abrir-se, não se isolando. E, se o nosso coração e os nossos gestos forem animados pela caridade, pelo amor divino, a nossa comunicação será portadora da força de Deus.
Como filhos de Deus, somos chamados a comunicar com todos, sem exclusão. Particularmente próprio da linguagem e das ações da Igreja é transmitir misericórdia, para tocar o coração das pessoas e sustentá-las no caminho rumo à plenitude daquela vida que Jesus Cristo, enviado pelo Pai, veio trazer a todos. Trata-se de acolher em nós mesmos e irradiar ao nosso redor o calor materno da Igreja, para que Jesus seja conhecido e amado; aquele calor que dá substância às palavras da fé e acende, na pregação e no testemunho, a «centelha» que os vivifica.
A comunicação tem o poder de criar pontes, favorecer o encontro e a inclusão, enriquecendo assim a sociedade. Como é bom ver pessoas esforçando-se por escolher cuidadosamente palavras e gestos para superar as incompreensões, curar a memória ferida e construir paz e harmonia. As palavras podem construir pontes entre as pessoas, as famílias, os grupos sociais, os povos. E isto acontece tanto no ambiente físico como no digital. Assim, palavras e ações hão-de ser tais que nos ajudem a sair dos círculos viciosos de condenações e vinganças que mantêm prisioneiros os indivíduos e as nações, expressando-se através de mensagens de ódio. Ao contrário, a palavra do cristão visa fazer crescer a comunhão e, mesmo quando deve com firmeza condenar o mal, procura não romper jamais o relacionamento e a comunicação.
Por isso, queria convidar todas as pessoas de boa vontade a redescobrirem o poder que a misericórdia tem de curar as relações dilaceradas e restaurar a paz e a harmonia entre as famílias e nas comunidades. Todos nós sabemos como velhas feridas e prolongados ressentimentos podem aprisionar as pessoas, impedindo-as de comunicar e reconciliar-se. E isto aplica-se também às relações entre os povos. Em todos estes casos, a misericórdia é capaz de implementar um novo modo de falar e dialogar, como se exprimiu muito eloquentemente Shakespeare: «A misericórdia não é uma obrigação. Desce do céu como o refrigério da chuva sobre a terra. É uma dupla bênção: abençoa quem a dá e quem a recebe» (O mercador de Veneza, Ato IV, Cena I).
É desejável que também a linguagem da política e da diplomacia se deixe inspirar pela misericórdia, que nunca dá nada por perdido. Faço apelo sobretudo àqueles que têm responsabilidades institucionais, políticas e de formação da opinião pública, para que estejam sempre vigilantes sobre o modo como se exprimem a respeito de quem pensa ou age de forma diferente e ainda de quem possa ter errado. É fácil ceder à tentação de explorar tais situações e, assim, alimentar as chamas da desconfiança, do medo, do ódio. Pelo contrário, é preciso coragem para orientar as pessoas em direção a processos de reconciliação, mas é precisamente tal audácia positiva e criativa que oferece verdadeiras soluções para conflitos antigos e a oportunidade de realizar uma paz duradoura. «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. (...) Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 7.9).
Como gostaria que o nosso modo de comunicar e também o nosso serviço de pastores na Igreja nunca expressassem o orgulho soberbo do triunfo sobre um inimigo, nem humilhassem aqueles que a mentalidade do mundo considera perdedores e descartáveis! A misericórdia pode ajudar a mitigar as adversidades da vida e dar calor a quantos têm conhecido apenas a frieza do julgamento. Seja o estilo da nossa comunicação capaz de superar a lógica que separa nitidamente os pecadores dos justos. Podemos e devemos julgar situações de pecado – violência, corrupção, exploração, etc. –, mas não podemos julgar as pessoas, porque só Deus pode ler profundamente no coração delas. É nosso dever admoestar quem erra, denunciando a maldade e a injustiça de certos comportamentos, a fim de libertar as vítimas e levantar quem caiu. O Evangelho de João lembra-nos que «a verdade [nos] tornará livres» (Jo 8, 32). Em última análise, esta verdade é o próprio Cristo, cuja misericórdia repassada de mansidão constitui a medida do nosso modo de anunciar a verdade e condenar a injustiça. É nosso dever principal afirmar a verdade com amor (cf. Ef 4, 15). Só palavras pronunciadas com amor e acompanhadas por mansidão e misericórdia tocam os nossos corações de pecadores. Palavras e gestos duros ou moralistas correm o risco de alienar ainda mais aqueles que queríamos levar à conversão e à liberdade, reforçando o seu sentido de negação e defesa.
Alguns pensam que uma visão da sociedade enraizada na misericórdia seja injustificadamente idealista ou excessivamente indulgente. Mas tentemos voltar com o pensamento às nossas primeiras experiências de relação no seio da família. Os pais amavam-nos e apreciavam-nos mais pelo que somos do que pelas nossas capacidades e os nossos sucessos. Naturalmente os pais querem o melhor para os seus filhos, mas o seu amor nunca esteve condicionado à obtenção dos objetivos. A casa paterna é o lugar onde sempre és bem-vindo (cf. Lc 15, 11-32). Gostaria de encorajar a todos a pensar a sociedade humana não como um espaço onde estranhos competem e procuram prevalecer, mas antes como uma casa ou uma família onde a porta está sempre aberta e se procura aceitar uns aos outros.
Para isso é fundamental escutar. Comunicar significa partilhar, e a partilha exige a escuta, o acolhimento. Escutar é muito mais do que ouvir. Ouvir diz respeito ao âmbito da informação; escutar, ao invés, refere-se ao âmbito da comunicação e requer a proximidade. A escuta permite-nos assumir a atitude justa, saindo da tranquila condição de espectadores, usuários, consumidores. Escutar significa também ser capaz de compartilhar questões e dúvidas, caminhar lado a lado, libertar-se de qualquer presunção de omnipotência e colocar, humildemente, as próprias capacidades e dons ao serviço do bem comum.
Escutar nunca é fácil. Às vezes é mais cômodo fingir-se de surdo. Escutar significa prestar atenção, ter desejo de compreender, dar valor, respeitar, guardar a palavra alheia. Na escuta, consuma-se uma espécie de martírio, um sacrifício de nós mesmos em que se renova o gesto sacro realizado por Moisés diante da sarça-ardente: descalçar as sandálias na «terra santa» do encontro com o outro que me fala (cf. Ex 3, 5). Saber escutar é uma graça imensa, é um dom que é preciso implorar e depois exercitar-se a praticá-lo.
Também e-mails, sms, redes sociais, chat podem ser formas de comunicação plenamente humanas. Não é a tecnologia que determina se a comunicação é autêntica ou não, mas o coração do homem e a sua capacidade de fazer bom uso dos meios ao seu dispor. As redes sociais são capazes de favorecer as relações e promover o bem da sociedade, mas podem também levar a uma maior polarização e divisão entre as pessoas e os grupos. O ambiente digital é uma praça, um lugar de encontro, onde é possível acariciar ou ferir, realizar uma discussão proveitosa ou um linchamento moral. Rezo para que o Ano Jubilar, vivido na misericórdia, «nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos; elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de violência e discriminação» (Misericordiae Vultus, 23). Em rede, também se constrói uma verdadeira cidadania. O acesso às redes digitais implica uma responsabilidade pelo outro, que não vemos mas é real, tem a sua dignidade que deve ser respeitada. A rede pode ser bem utilizada para fazer crescer uma sociedade sadia e aberta à partilha.
A comunicação, os seus lugares e os seus instrumentos permitiram um alargamento de horizontes para muitas pessoas. Isto é um dom de Deus, e também uma grande responsabilidade. Gosto de definir este poder da comunicação como «proximidade». O encontro entre a comunicação e a misericórdia é fecundo na medida em que gerar uma proximidade que cuida, conforta, cura, acompanha e faz festa. Num mundo dividido, fragmentado, polarizado, comunicar com misericórdia significa contribuir para a boa, livre e solidária proximidade entre os filhos de Deus e irmãos em humanidade.
Papa Francisco
Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais
Fonte: https://w2.vatican.va
quinta-feira, 24 de março de 2016
Papa Francisco e o Tríduo Pascal: silêncio e oração
A nossa reflexão sobre misericórdia de Deus nos introduz hoje ao Tríduo Pascal. Viveremos a Quinta, a Sexta e o Sábado santo como momentos fortes que nos permitem entrar sempre mais no grande mistério da nossa fé: a Ressurreição do nosso Senhor Jesus Cristo. Tudo, nestes três dias, fala de misericórdia, porque torna visível até onde pode chegar o amor de Deus. Escutaremos o relato dos últimos dias da vida de Jesus. O evangelista João nos oferece as chaves para compreender o sentido profundo disso: “Tendo amado os seus que estavam nesse mundo, amou-os até o fim” (Jo 13, 1). O amor de Deus não tem limites. Como repetia muitas vezes Santo Agostinho, é um amor que vai “até o fim sem fim”. Deus se oferece verdadeiramente todo para cada um de nós e não economiza em nada. O mistério que adoramos nesta Semana Santa é uma grande história do amor que não conhece obstáculos. A Paixão de Jesus vai até o fim do mundo, porque é uma história de partilha com os sofrimentos de toda a humanidade e uma permanente presença nos acontecimentos da vida pessoal de cada um de nós. Em resumo, o Tríduo Pascal é memorial de um drama de amor que nos dá a certeza de que não seremos nunca abandonados nas provações da vida.
Na Quinta-feira Santa, Jesus institui a Eucaristia, antecipando no banquete pascal o seu sacrifício no Gólgota. Para fazer os discípulos compreenderem o amor que o anima, lava seus pés, oferecendo ainda uma vez mais o exemplo em primeira pessoa de como eles mesmos deveriam agir. A Eucaristia é o amor que se faz serviço. É a presença sublime de Cristo que deseja alimentar cada homem, sobretudo os mais frágeis, para torná-los capazes de um caminho de testemunho entre as dificuldades do mundo. Não somente. Em dar-se a nós como alimento, Jesus atesta que devemos aprender a dividir com os outros este alimento para que se torne uma verdadeira comunhão de vida com quantos estão em necessidade. Ele se doa a nós e nos pede para permanecermos Nele para fazermos o mesmo.
A Sexta-feira santa é o momento culminante do amor. A morte de Jesus, que na cruz se abandona ao Pai para oferecer a salvação ao mundo inteiro, exprime o amor dado até o fim, sem fim. Um amor que pretende abraçar todos, ninguém excluído. Um amor que se estende a todo tempo e a todo lugar: uma fonte inesgotável de salvação a que cada um de nós, pecadores, podemos chegar. Se Deus nos demonstrou o seu amor supremo na morte de Jesus, então também nós, regenerados pelo Espírito Santo, podemos e devemos nos amar uns aos outros.
E enfim, o Sábado Santo é o dia do silêncio de Deus. Deve ser um dia de silêncio e nós devemos fazer de tudo para que para nós seja justamente um dia de silêncio, como foi naquele tempo: o dia do silêncio de Deus. Jesus colocado no sepulcro partilha com toda a humanidade o drama da morte. É um silêncio que fala e exprime o amor como solidariedade com os abandonados de sempre, que o Filho de Deus vem para preencher o vazio que apenas a misericórdia infinita do Deus Pai pode preencher. Deus se cala, mas por amor. Neste dia, o amor – aquele amor silencioso – torna-se espera da vida na ressurreição. Pensemos, o Sábado Santo: nos fará bem pensar no silêncio de Nossa Senhora, a “crente”, que em silêncio estava à espera da Ressurreição. Nossa Senhora deverá ser o ícone, para nós, daquele Sábado Santo. Pensar tanto como Nossa Senhora viveu aquele Sábado Santo; à espera. É o amor que não duvida, mas que espera na palavra do Senhor, para que torne evidente e brilhante o dia da Páscoa.
É tudo um grande mistério de amor e de misericórdia. As nossas palavras são pobres e insuficientes para exprimi-lo em plenitude. Pode vir em nosso auxílio a experiência de uma jovem, não muito conhecida, que escreveu páginas sublimes sobre o amor de Cristo. Chamava-se Giuliana di Norwich; era analfabeta, esta menina que teve visões da paixão de Jesus e que depois, tornando-se reclusa, descreveu, com linguagem simples, mas profunda e intensa, o sentido do amor misericordioso. Dizia assim: “Então o nosso bom Senhor me perguntou: ‘Estás feliz que eu tenha sofrido por ti?’. Eu disse: ‘Sim, Senhor, e te agradeço muito; sim, bom Senhor, que tu sejas bendito’. Então Jesus, o nosso bom Senhor, disse: ‘Se tu estás feliz, também eu estou. Ter sofrido a paixão por ti é para mim uma alegria, uma felicidade, uma alegria eterna; e se pudesse sofrer ainda mais eu o faria’”.
Como são belas essas palavras! Permitem-nos entender realmente o amor imenso e sem limites que o Senhor tem por cada um de nós. Deixemo-nos envolver por essa misericórdia que vem ao nosso encontro e, nestes dias, enquanto temos fixo o olhar sobre a paixão e a morte do Senhor, acolhamos no nosso coração a grandeza do seu amor e, como Nossa Senhora, o Sábado, em silêncio, à espera da Ressurreição.
Papa Francisco
Na Quinta-feira Santa, Jesus institui a Eucaristia, antecipando no banquete pascal o seu sacrifício no Gólgota. Para fazer os discípulos compreenderem o amor que o anima, lava seus pés, oferecendo ainda uma vez mais o exemplo em primeira pessoa de como eles mesmos deveriam agir. A Eucaristia é o amor que se faz serviço. É a presença sublime de Cristo que deseja alimentar cada homem, sobretudo os mais frágeis, para torná-los capazes de um caminho de testemunho entre as dificuldades do mundo. Não somente. Em dar-se a nós como alimento, Jesus atesta que devemos aprender a dividir com os outros este alimento para que se torne uma verdadeira comunhão de vida com quantos estão em necessidade. Ele se doa a nós e nos pede para permanecermos Nele para fazermos o mesmo.
A Sexta-feira santa é o momento culminante do amor. A morte de Jesus, que na cruz se abandona ao Pai para oferecer a salvação ao mundo inteiro, exprime o amor dado até o fim, sem fim. Um amor que pretende abraçar todos, ninguém excluído. Um amor que se estende a todo tempo e a todo lugar: uma fonte inesgotável de salvação a que cada um de nós, pecadores, podemos chegar. Se Deus nos demonstrou o seu amor supremo na morte de Jesus, então também nós, regenerados pelo Espírito Santo, podemos e devemos nos amar uns aos outros.
E enfim, o Sábado Santo é o dia do silêncio de Deus. Deve ser um dia de silêncio e nós devemos fazer de tudo para que para nós seja justamente um dia de silêncio, como foi naquele tempo: o dia do silêncio de Deus. Jesus colocado no sepulcro partilha com toda a humanidade o drama da morte. É um silêncio que fala e exprime o amor como solidariedade com os abandonados de sempre, que o Filho de Deus vem para preencher o vazio que apenas a misericórdia infinita do Deus Pai pode preencher. Deus se cala, mas por amor. Neste dia, o amor – aquele amor silencioso – torna-se espera da vida na ressurreição. Pensemos, o Sábado Santo: nos fará bem pensar no silêncio de Nossa Senhora, a “crente”, que em silêncio estava à espera da Ressurreição. Nossa Senhora deverá ser o ícone, para nós, daquele Sábado Santo. Pensar tanto como Nossa Senhora viveu aquele Sábado Santo; à espera. É o amor que não duvida, mas que espera na palavra do Senhor, para que torne evidente e brilhante o dia da Páscoa.
É tudo um grande mistério de amor e de misericórdia. As nossas palavras são pobres e insuficientes para exprimi-lo em plenitude. Pode vir em nosso auxílio a experiência de uma jovem, não muito conhecida, que escreveu páginas sublimes sobre o amor de Cristo. Chamava-se Giuliana di Norwich; era analfabeta, esta menina que teve visões da paixão de Jesus e que depois, tornando-se reclusa, descreveu, com linguagem simples, mas profunda e intensa, o sentido do amor misericordioso. Dizia assim: “Então o nosso bom Senhor me perguntou: ‘Estás feliz que eu tenha sofrido por ti?’. Eu disse: ‘Sim, Senhor, e te agradeço muito; sim, bom Senhor, que tu sejas bendito’. Então Jesus, o nosso bom Senhor, disse: ‘Se tu estás feliz, também eu estou. Ter sofrido a paixão por ti é para mim uma alegria, uma felicidade, uma alegria eterna; e se pudesse sofrer ainda mais eu o faria’”.
Como são belas essas palavras! Permitem-nos entender realmente o amor imenso e sem limites que o Senhor tem por cada um de nós. Deixemo-nos envolver por essa misericórdia que vem ao nosso encontro e, nestes dias, enquanto temos fixo o olhar sobre a paixão e a morte do Senhor, acolhamos no nosso coração a grandeza do seu amor e, como Nossa Senhora, o Sábado, em silêncio, à espera da Ressurreição.
Papa Francisco
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
Confiar em Jesus misericordioso, como Maria: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5)
MENSAGEM DE SUA SANTIDADE FRANCISCO
PARA A XXIV JORNADA MUNDIAL DO DOENTE
Amados irmãos e irmãs!
A XXIV Jornada Mundial do Doente dá-me ocasião para me
sentir particularmente próximo de vós, queridas pessoas doentes, e de quantos
cuidam de vós.
Dado que a referida Jornada vai ser celebrada de maneira
solene na Terra Santa, proponho que, neste ano, se medite a narração evangélica
das bodas de Caná (Jo 2, 1-11), onde Jesus realizou o primeiro milagre a pedido
de sua Mãe. O tema escolhido – Confiar em Jesus misericordioso, como Maria:
«Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2, 5) – insere-se muito bem no âmbito do
Jubileu Extraordinário da Misericórdia. A celebração eucarística central da
Jornada terá lugar a 11 de Fevereiro de 2016, memória litúrgica de Nossa
Senhora de Lurdes, e precisamente em Nazaré, onde «o Verbo Se fez homem e veio
habitar conosco» (Jo 1, 14). Em Nazaré, Jesus deu início à sua missão
salvífica, aplicando a Si mesmo as palavras do profeta Isaías, como nos refere
o evangelista Lucas: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para
anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos
e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a
proclamar um ano favorável da parte do Senhor» (4, 18-19).
A doença, sobretudo se grave, põe sempre em crise a
existência humana e suscita interrogativos que nos atingem em profundidade. Por
vezes, o primeiro momento pode ser de rebelião: Porque havia de acontecer
precisamente a mim? Podemos sentir-nos desesperados, pensar que tudo está perdido,
que já nada tem sentido...
Nestas situações, a fé em Deus se, por um lado, é posta à
prova, por outro, revela toda a sua força positiva; e não porque faça
desaparecer a doença, a tribulação ou os interrogativos que daí derivam, mas
porque nos dá uma chave para podermos descobrir o sentido mais profundo daquilo
que estamos a viver; uma chave que nos ajuda a ver como a doença pode ser o
caminho para chegar a uma proximidade mais estreita com Jesus, que caminha ao
nosso lado, carregando a Cruz. E esta chave é-nos entregue pela Mãe, Maria,
perita deste caminho.
Nas bodas de Caná, Maria é a mulher solícita que se apercebe
de um problema muito importante para os esposos: acabou o vinho, símbolo da
alegria da festa. Maria dá-Se conta da dificuldade, de certa maneira assume-a
e, com discrição, age sem demora. Não fica a olhar e, muito menos, se demora a
fazer juízos, mas dirige-Se a Jesus e apresenta-Lhe o problema como é: «Não têm
vinho» (Jo 2, 3). E quando Jesus Lhe faz notar que ainda não chegou o momento
de revelar-Se (cf. v. 4), Maria diz aos serventes: «Fazei o que Ele vos disser»
(v. 5). Então Jesus realiza o milagre, transformando uma grande quantidade de
água em vinho, um vinho que logo se revela o melhor de toda a festa. Que
ensinamento podemos tirar, para a Jornada Mundial do Doente, do mistério das
bodas de Caná?
O banquete das bodas de Caná é um ícone da Igreja: no
centro, está Jesus misericordioso que realiza o sinal; em redor d’Ele, os
discípulos, as primícias da nova comunidade; e, perto de Jesus e dos seus
discípulos, está Maria, Mãe providente e orante. Maria participa na alegria do
povo comum, e contribui para a aumentar; intercede junto de seu Filho a bem dos
esposos e de todos os convidados. E Jesus não rejeitou o pedido de sua Mãe.
Quanta esperança há neste acontecimento para todos nós! Temos uma Mãe de olhar
vigilante e bom, como seu Filho; o coração materno e repleto de misericórdia,
como Ele; as mãos que desejam ajudar, como as mãos de Jesus que dividiam o pão
para quem tinha fome, que tocavam os doentes e os curavam. Isto enche-nos de
confiança, fazendo-nos abrir à graça e à misericórdia de Cristo. A intercessão
de Maria faz-nos experimentar a consolação, pela qual o apóstolo Paulo bendiz a
Deus: «Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das
misericórdias e o Deus de toda consolação! Ele nos consola em toda a nossa
tribulação, para que também nós possamos consolar aqueles que estão em qualquer
tribulação, mediante a consolação que nós mesmos recebemos de Deus. Na verdade,
assim como abundam em nós os sofrimentos de Cristo, também, por meio de Cristo,
é abundante a nossa consolação» (2 Cor
1, 3-5). Maria é a Mãe «consolada», que consola os seus filhos.
Em Caná, manifestam-se os traços distintivos de Jesus e da
sua missão: é Aquele que socorre quem está em dificuldade e passa necessidade.
Com efeito, no seu ministério messiânico, curará a muitos de doenças,
enfermidades e espíritos malignos, dará vista aos cegos, fará caminhar os
coxos, restituirá saúde e dignidade aos leprosos, ressuscitará os mortos, e aos
pobres anunciará a boa nova (cf. Lc 7, 21-22). E, durante o festim nupcial, o
pedido de Maria – sugerido pelo Espírito Santo ao seu coração materno – fez
revelar-se não só o poder messiânico de Jesus, mas também a sua misericórdia.
Na solicitude de Maria, reflete-se a ternura de Deus. E a
mesma ternura torna-se presente na vida de tantas pessoas que acompanham os
doentes e sabem individuar as suas necessidades, mesmo as mais subtis, porque
vêem com um olhar cheio de amor. Quantas vezes uma mãe à cabeceira do filho
doente, ou um filho que cuida do seu progenitor idoso, ou um neto que acompanha
o avô ou a avó, depõe a sua súplica nas mãos de Nossa Senhora! Para nossos
familiares doentes, pedimos, em primeiro lugar, a saúde; o próprio Jesus
manifestou a presença do Reino de Deus precisamente através das curas. «Ide
contar a João o que vedes e ouvis: os cegos vêem e os coxos andam; os leprosos
ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam» (Mt 11, 4-5). Mas o
amor, animado pela fé, leva-nos a pedir, para eles, algo maior do que a saúde
física: pedimos uma paz, uma serenidade da vida que parte do coração e que é
dom de Deus, fruto do Espírito Santo que o Pai nunca nega a quantos Lho pedem
com confiança.
No episódio de Caná, além de Jesus e sua Mãe, temos aqueles
que são chamados «serventes» e que d’Ela recebem esta recomendação: «Fazei o
que Ele vos disser» (Jo 2, 5). Naturalmente, o milagre dá-se por obra de
Cristo; contudo Ele quer servir-Se da ajuda humana para realizar o prodígio.
Poderia ter feito aparecer o vinho diretamente nas vasilhas. Mas quer valer-Se
da colaboração humana e pede aos serventes que as encham de água. Como é
precioso e agradável aos olhos de Deus ser serventes dos outros! Mais do que
qualquer outra coisa, é isto que nos faz semelhantes a Jesus, que «não veio
para ser servido, mas para servir» (Mc 10, 45). Aqueles personagens anônimos do
Evangelho dão-nos uma grande lição. Não só obedecem, mas fazem-no
generosamente: enchem as vasilhas até cima (cf. Jo 2, 7). Confiam na Mãe,
fazendo, imediatamente e bem, o que lhes é pedido, sem lamentos nem cálculos.
Nesta Jornada Mundial do Doente, podemos pedir a Jesus
misericordioso, pela intercessão de Maria, Mãe d’Ele e nossa, que nos conceda a
todos a mesma disponibilidade ao serviço dos necessitados e, concretamente, dos
nossos irmãos e irmãs doentes. Por vezes, este serviço pode ser cansativo,
pesado, mas tenhamos a certeza de que o Senhor não deixará de transformar o
nosso esforço humano em algo de divino. Também nós podemos ser mãos, braços,
corações que ajudam a Deus a realizar os seus prodígios, muitas vezes
escondidos. Também nós, sãos ou doentes, podemos oferecer as nossas canseiras e
sofrimentos como aquela água que encheu as vasilhas nas bodas de Caná e foi
transformada no vinho melhor. Tanto com a ajuda discreta de quem sofre, como
suportando a doença, carrega-se aos ombros a cruz de cada dia e segue-se o
Mestre (cf. Lc 9, 23); e, embora o encontro com o sofrimento seja sempre um
mistério, Jesus ajuda-nos a desvendar o seu sentido.
Se soubermos seguir a voz d’Aquela que recomenda, a nós
também, «fazei o que Ele vos disser», Jesus transformará sempre a água da nossa
vida em vinho apreciado. Assim, esta Jornada Mundial do Doente, celebrada
solenemente na Terra Santa, ajudará a tornar realidade os votos que formulei na
Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia: «Possa este Ano
Jubilar, vivido na misericórdia, favorecer o encontro com [o judaísmo e o
islamismo] e com as outras nobres tradições religiosas; que ele nos torne mais
abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos; elimine todas
as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de violência e
discriminação» (Misericordiae Vultus, 23). Cada hospital ou casa de cura pode
ser sinal visível e lugar para promover a cultura do encontro e da paz, onde a
experiência da doença e da tribulação, bem como a ajuda profissional e fraterna
contribuam para superar qualquer barreira e divisão.
Exemplo disto são as duas Irmãs canonizadas no passado mês
de Maio: Santa Maria Alfonsina Danil Ghattas e Santa Maria de Jesus Crucificado
Baouardy, ambas filhas da Terra Santa. A primeira foi uma testemunha de
mansidão e unidade, dando claro testemunho de como é importante tornarmo-nos
responsáveis uns pelos outros, vivermos ao serviço uns dos outros. A segunda,
mulher humilde e analfabeta, foi dócil ao Espírito Santo, tornando-se
instrumento de encontro com o mundo muçulmano.
A todos aqueles que estão ao serviço dos doentes e
atribulados, desejo que vivam animados pelo espírito de Maria, Mãe da
Misericórdia. «A doçura do seu olhar nos acompanhe neste Ano Santo, para
podermos todos nós redescobrir a alegria da ternura de Deus» (ibid., 24) e
levá-la impressa nos nossos corações e nos nossos gestos. Confiamos à
intercessão da Virgem as ânsias e tribulações, juntamente com as alegrias e
consolações, dirigindo-Lhe a nossa oração para que Ela pouse sobre nós o seu
olhar misericordioso, especialmente nos momentos de sofrimento, e nos torne
dignos de contemplar, hoje e para sempre, o Rosto da misericórdia que é seu
Filho Jesus.
Acompanho esta súplica por todos vós com a minha Bênção
Apostólica.
Papa Francisco
Terra
Santa - Nazaré, 11 de Fevereiro de 2016
Fonte: www.vatican.va
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
A ciência do discernimento dos espíritos vem da percepção da inteligência
A luz da verdadeira ciência está em discernir sem errar o bem e o mal. Feito isto, a via da justiça que leva a mente a Deus, sol da justiça, introduz então a inteligência naquele infinito fulgor do conhecimento, que lhe faz procurar daí em diante, com segurança, a caridade.
Os que combatem precisam manter sempre o espírito fora das agitações perturbadoras para discernir os pensamentos que surgem: guardar os bons, vindos de Deus, no tesouro da memória; expulsar os maus e demoníacos dos antros da natureza. O mar, quando tranquilo, deixa os pescadores verem até o fundo, de sorte que quase nenhum peixe lhes escape; mas, agitado pelos ventos, ele esconde na turva tempestade aquilo que se via tão facilmente no tempo sereno. Assim, toda a perícia dos pescadores se vê frustrada.
Somente, porém, o Espírito Santo tem o poder de purificar a mente. Se o forte não entrar para espoliar o ladrão, nunca se libertará a presa. É necessário, portanto, alegrar em tudo o Espírito Santo pela paz da alma, mantendo em nós sempre acesa a lâmpada da ciência. Quando ela não cessa de brilhar no íntimo da mente, conhecem-se os ataques cruéis e tenebrosos dos demônios, o que mais ainda os enfraquece sendo eles manifestados por aquela santa e gloriosa luz.
Por esta razão diz o Apóstolo: Não apagueis o Espírito, isto é, não causeis tristeza ao Espírito Santo por maldades e maus pensamentos, para que não aconteça que ele deixe de proteger-vos com seu esplendor. Não que o eterno e vivificante Espírito Santo possa extinguir-se, mas é a sua tristeza, quer dizer, seu afastamento que deixa a mente escura sem a luz do conhecimento e envolta em trevas.
O sentido da mente é o paladar perfeito que distingue as realidades. Pois como pelo paladar, sentido corporal, sabemos discernir sem erro o bom do ruim quando estamos com saúde e desejamos as coisas delicadas, assim nossa mente, começando a adquirir a saúde perfeita e a mover-se sem preocupações, poderá sentir abundantemente a consolação divina e conservar, pela ação da caridade, a lembrança do gosto bom para aprovar o que for ainda melhor, conforme ensina o Apóstolo: Isto peço: que vossa caridade cresça sempre mais na ciência e na compreensão, para discernirdes o que é ainda melhor.
Dos Capítulos sobre a Perfeição Espiritual, de Diádoco de Foticéia, bispo (Séc.V)
Liturgia das Horas
Os que combatem precisam manter sempre o espírito fora das agitações perturbadoras para discernir os pensamentos que surgem: guardar os bons, vindos de Deus, no tesouro da memória; expulsar os maus e demoníacos dos antros da natureza. O mar, quando tranquilo, deixa os pescadores verem até o fundo, de sorte que quase nenhum peixe lhes escape; mas, agitado pelos ventos, ele esconde na turva tempestade aquilo que se via tão facilmente no tempo sereno. Assim, toda a perícia dos pescadores se vê frustrada.
Somente, porém, o Espírito Santo tem o poder de purificar a mente. Se o forte não entrar para espoliar o ladrão, nunca se libertará a presa. É necessário, portanto, alegrar em tudo o Espírito Santo pela paz da alma, mantendo em nós sempre acesa a lâmpada da ciência. Quando ela não cessa de brilhar no íntimo da mente, conhecem-se os ataques cruéis e tenebrosos dos demônios, o que mais ainda os enfraquece sendo eles manifestados por aquela santa e gloriosa luz.
Por esta razão diz o Apóstolo: Não apagueis o Espírito, isto é, não causeis tristeza ao Espírito Santo por maldades e maus pensamentos, para que não aconteça que ele deixe de proteger-vos com seu esplendor. Não que o eterno e vivificante Espírito Santo possa extinguir-se, mas é a sua tristeza, quer dizer, seu afastamento que deixa a mente escura sem a luz do conhecimento e envolta em trevas.
O sentido da mente é o paladar perfeito que distingue as realidades. Pois como pelo paladar, sentido corporal, sabemos discernir sem erro o bom do ruim quando estamos com saúde e desejamos as coisas delicadas, assim nossa mente, começando a adquirir a saúde perfeita e a mover-se sem preocupações, poderá sentir abundantemente a consolação divina e conservar, pela ação da caridade, a lembrança do gosto bom para aprovar o que for ainda melhor, conforme ensina o Apóstolo: Isto peço: que vossa caridade cresça sempre mais na ciência e na compreensão, para discernirdes o que é ainda melhor.
Dos Capítulos sobre a Perfeição Espiritual, de Diádoco de Foticéia, bispo (Séc.V)
Liturgia das Horas
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
Recebamos a luz clara e eterna
Todos nós que celebramos e veneramos com tanta piedade o mistério do encontro do Senhor, corramos para ele cheios de entusiasmo. Ninguém deixe de participar deste encontro, ninguém recuse levar sua luz.
Acrescentamos também algo ao brilho das velas, para significar o esplendor divino daquele que se aproxima e ilumina todas as coisas; ele dissipa as trevas do mal com a sua luz eterna, e também manifesta o esplendor da alma, com o qual devemos correr ao encontro com Cristo.
Do mesmo modo que a Mãe de Deus e Virgem imaculada trouxe nos braços a verdadeira luz e a comunicou aos que jaziam nas trevas, assim também nós: iluminados pelo seu fulgor e trazendo na mão uma luz que brilha diante de todos, corramos pressurosos ao encontro daquele que é a verdadeira luz.
Realmente, a luz veio ao mundo (cf. Jo 1,9) e dispersou as sombras que o cobriam; o sol que nasce do alto nos visitou (cf. Lc 1,78) e iluminou os que jaziam nas trevas. É este o significado do mistério que hoje celebramos. Por isso caminhamos com lâmpadas nas mãos, por isso acorremos trazendo as luzes, não apenas simbolizando que a luz já brilhou para nós, mas também para anunciar o esplendor maior que dela nos virá no futuro. Por este motivo, vamos todos juntos, corramos ao encontro de Deus.
Chegou a verdadeira luz, que vindo ao mundo ilumina todo ser humano (Jo 1,9). Portanto, irmãos, deixemos que ela nos ilumine, que ela brilhe sobre todos nós.
Que ninguém fique excluído deste esplendor, ninguém insista em continuar mergulhado na noite. Mas avancemos todos resplandecentes; iluminados por este fulgor, vamos todos ao seu encontro e com o velho Simeão recebamos a luz clara e eterna. Associemo-nos à sua alegria e cantemos com ele um hino de ação de graças ao Criador e Pai da luz, que enviou a luz verdadeira e, afastando todas as trevas, nos fez participantes do seu esplendor.
A salvação de Deus, preparada diante de todos os povos, manifestou a glória que nos pertence, a nós que somos o novo Israel. Também fez com que víssemos, graças a ele, essa salvação e fôssemos absolvidos da antiga e tenebrosa culpa. Assim aconteceu com Simeão que, depois de ver a Cristo, foi libertado dos laços da vida presente.
Também nós, abraçando pela fé a Cristo Jesus que nasceu em Belém, de pagãos que éramos, nos tornamos povo de Deus – Jesus é, com efeito, a salvação de Deus Pai – e vemos com nossos próprios olhos o Deus feito homem. E porque vimos a presença de Deus e a recebemos, por assim dizer,nos braços do nosso espírito, somos chamados de novo Israel. Todos os anos celebramos novamente esta festa, para nunca nos esquecermos daquele que um dia há de voltar.
Dos Sermões de São Sofrônio, bispo (Séc.VII)
Liturgia das horas
Acrescentamos também algo ao brilho das velas, para significar o esplendor divino daquele que se aproxima e ilumina todas as coisas; ele dissipa as trevas do mal com a sua luz eterna, e também manifesta o esplendor da alma, com o qual devemos correr ao encontro com Cristo.
Do mesmo modo que a Mãe de Deus e Virgem imaculada trouxe nos braços a verdadeira luz e a comunicou aos que jaziam nas trevas, assim também nós: iluminados pelo seu fulgor e trazendo na mão uma luz que brilha diante de todos, corramos pressurosos ao encontro daquele que é a verdadeira luz.
Realmente, a luz veio ao mundo (cf. Jo 1,9) e dispersou as sombras que o cobriam; o sol que nasce do alto nos visitou (cf. Lc 1,78) e iluminou os que jaziam nas trevas. É este o significado do mistério que hoje celebramos. Por isso caminhamos com lâmpadas nas mãos, por isso acorremos trazendo as luzes, não apenas simbolizando que a luz já brilhou para nós, mas também para anunciar o esplendor maior que dela nos virá no futuro. Por este motivo, vamos todos juntos, corramos ao encontro de Deus.
Chegou a verdadeira luz, que vindo ao mundo ilumina todo ser humano (Jo 1,9). Portanto, irmãos, deixemos que ela nos ilumine, que ela brilhe sobre todos nós.
Que ninguém fique excluído deste esplendor, ninguém insista em continuar mergulhado na noite. Mas avancemos todos resplandecentes; iluminados por este fulgor, vamos todos ao seu encontro e com o velho Simeão recebamos a luz clara e eterna. Associemo-nos à sua alegria e cantemos com ele um hino de ação de graças ao Criador e Pai da luz, que enviou a luz verdadeira e, afastando todas as trevas, nos fez participantes do seu esplendor.
A salvação de Deus, preparada diante de todos os povos, manifestou a glória que nos pertence, a nós que somos o novo Israel. Também fez com que víssemos, graças a ele, essa salvação e fôssemos absolvidos da antiga e tenebrosa culpa. Assim aconteceu com Simeão que, depois de ver a Cristo, foi libertado dos laços da vida presente.
Também nós, abraçando pela fé a Cristo Jesus que nasceu em Belém, de pagãos que éramos, nos tornamos povo de Deus – Jesus é, com efeito, a salvação de Deus Pai – e vemos com nossos próprios olhos o Deus feito homem. E porque vimos a presença de Deus e a recebemos, por assim dizer,nos braços do nosso espírito, somos chamados de novo Israel. Todos os anos celebramos novamente esta festa, para nunca nos esquecermos daquele que um dia há de voltar.
Dos Sermões de São Sofrônio, bispo (Séc.VII)
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