A devoção a Maria é fonte de vida cristã profunda
“Viva a Mãe
de Deus e nossa, sem pecado concebida! Viva a Virgem Imaculada, a Senhora Aparecida!”.
Desde que
pus os pés em terra brasileira, nos vários pontos por onde passei, ouvi este
cântico. Ele é, na
ingenuidade e singeleza de suas palavras, um grito da alma, uma saudação, uma invocação
cheia de filial devoção e confiança para com aquela que, sendo verdadeira Mãe
de Deus, nos
foi dada por seu Filho Jesus no momento extremo da sua vida para ser nossa Mãe.
Sim, amados
irmãos e filhos, Maria, a Mãe de Deus, é modelo para a Igreja, é Mãe para os remidos. Por
sua adesão pronta e incondicional à vontade divina que lhe foi revelada,
torna-se Mãe do
Redentor, com uma participação íntima e toda especial na história da salvação.
Pelos méritos de
seu Filho, é Imaculada em sua Conceição, concebida sem a mancha original, preservada
do pecado e cheia de graça.
Ao
confessar-se serva do Senhor (Lc 1,38) e ao pronunciar o seu sim, acolhendo “em
seu coração e em
seu seio” o mistério de Cristo Redentor, Maria não foi instrumento meramente passivo nas
mãos de Deus, mas cooperou na salvação dos homens com fé livre e inteira obediência.
Sem nada tirar ou diminuir e nada acrescentar à ação daquele que é o único Mediador
entre Deus e os homens, Jesus Cristo, Maria nos aponta as vias da salvação,
vias que convergem
todas para Cristo, seu Filho, e para a sua obra redentora.
Maria nos
leva a Cristo, como afirma com precisão o Concílio Vaticano II: “A função
maternal de Maria, em
relação aos homens, de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo;
antes, manifesta a sua eficácia. E de nenhum modo impede o contato imediato dos
fiéis com Cristo,
antes o favorece”.
Mãe da
Igreja, a Virgem Santíssima tem uma presença singular na vida e na ação desta
mesma Igreja. Por isso mesmo, a Igreja tem os olhos sempre voltados para aquela que, permanecendo virgem,
gerou, por obra do Espírito Santo, o Verbo feito carne. Qual é a missão da
Igreja senão a de fazer
nascer o Cristo no coração dos fiéis, pela ação do mesmo Espírito Santo,
através da evangelização?
Assim, a “Estrela da Evangelização”, como a chamou o meu Predecessor Paulo VI, aponta e
ilumina os caminhos do anúncio do Evangelho. Este anúncio de Cristo Redentor, de sua
mensagem de salvação, não pode ser reduzido a um mero projeto humano de
bem-estar e felicidade temporal. Tem certamente incidências na história humana
coletiva e individual, mas é fundamentalmente um anúncio de libertação do
pecado para a comunhão com Deus, em Jesus Cristo. De resto, esta comunhão com
Deus não prescinde de uma comunhão dos homens uns com os outros, pois os que se
convertem a Cristo, autor da salvação e princípio de unidade, são chamados a
congregar-se em Igreja, sacramento visível desta unidade humana salvífica.
Por tudo
isto, nós todos, os que formamos a geração hodierna dos discípulos de Cristo,
com total
aderência à tradição antiga e com pleno respeito e amor pelos membros de todas
as comunidades
cristãs, desejamos unir-nos a Maria, impelidos por uma profunda necessidade da fé, da
esperança e da caridade. Discípulos de Jesus Cristo neste momento crucial da
história humana, em
plena adesão à ininterrupta Tradição e ao sentimento constante da Igreja,
impelidos por um íntimo imperativo de fé, esperança e caridade, nós desejamos
unir-nos a Maria. E queremos fazê-lo através das expressões da piedade mariana
da Igreja de todos os tempos.
A devoção a
Maria é fonte de vida cristã profunda, é fonte de compromisso com Deus e com os
irmãos. Permanecei na escola de Maria, escutai a sua voz,segui os seus
exemplos. Como ouvimos no
Evangelho, ela nos orienta para Jesus: Fazei o que ele vos disser (Jo 2,5). E,
como outrora em
Caná da Galiléia, encaminha ao Filho as dificuldades dos homens, obtendo dele
as graças
desejadas. Rezemos com Maria e por Maria: ela é sempre a “Mãe de Deus e nossa”.
Papa João Paulo II - Séc. XX
Comentários
Postar um comentário